"Mulheres não servem para liderar" será mesmo?
- Liana Lopes
- 10 de jul.
- 3 min de leitura

Durante séculos, a sociedade cultivou padrões e crenças que moldaram nossa percepção sobre o papel das mulheres no mercado de trabalho. A frase “mulheres não servem para liderar” não é apenas um equívoco: é um reflexo direto de uma cultura que resistiu e ainda resiste à equidade de gênero nas organizações.
📉 A ilusão do progresso
Vivemos a era da inteligência artificial, da automação e da inovação. Mas, ironicamente, ainda operamos com códigos sociais do século passado. Enquanto avançamos tecnologicamente, muitos retrocedem humanamente. Prova disso são os dados: as mulheres representam 50,7% da população brasileira, segundo o IBGE, mas apenas 38% dos cargos de liderança no país, de acordo com a pesquisa do Instituto Ethos (2023). Quando recortamos para mulheres negras, esse número cai drasticamente para menos de 7%.
E mais: o estudo "Women in the Workplace" (McKinsey & LeanIn.org, 2023) revela o chamado “Broken Rung” (degrau quebrado) — um fenômeno que mostra que, a cada 100 homens promovidos a cargos de gerência, apenas 87 mulheres recebem a mesma oportunidade. O funil afunila ainda mais em cargos executivos.
⚙️ Por que isso acontece?
Porque seguimos prisioneiros de vieses inconscientes e estereótipos ultrapassados:
“Mulheres são emocionais demais”;
“Liderança exige frieza e racionalidade”;
“Homens são mais assertivos e confiantes”.
Essas crenças ignoram avanços da neurociência e da psicologia. O cérebro humano não interpreta a realidade como ela é, mas sim como foi condicionado a enxergar. Somos moldados por experiências, cultura e ambiente. Assim como um algoritmo aprende a partir dos dados que recebe, nosso cérebro interpreta o mundo com base nos estímulos que recebeu ao longo da vida, e se esses estímulos foram machistas, o julgamento também será.
🧠 A força da liderança neuro consciente
Em vez de rejeitar emoções no ambiente de trabalho, devemos compreendê-las. A liderança do século 21 não é sobre comando e controle. É sobre escuta ativa, empatia, adaptabilidade e regulação emocional.
Estudos sobre neurociência e liderança mostram que emoções não são um defeito de fabricação, são a engrenagem que impulsiona decisões, relacionamentos e inovação. De acordo com Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, 80% do sucesso profissional é atribuído às soft skills, e não às habilidades técnicas.
A mulher, historicamente treinada para perceber o outro, resolver conflitos e atuar com múltiplas tarefas, já desenvolveu essas habilidades ao longo da vida. Liderar um time, muitas vezes, não é diferente de liderar uma casa: exige equilíbrio emocional, organização, estratégia e resiliência.
🔄 E se invertêssemos o olhar?
Se seguíssemos os mesmos estereótipos aplicados às mulheres, deveríamos então considerar que homens não servem para liderar o futuro, pois esse futuro exige empatia, cuidado e escuta, características tradicionalmente atribuídas ao feminino. Mas isso também seria um erro.
A verdade é que ninguém “nasce líder”. Liderança se desenvolve. Com estímulo, oportunidade e ambiente adequado. O que falta não é competência nas mulheres, o que falta é espaço.
✅ E os dados não mentem:
Empresas com maior diversidade de gênero na liderança são 21% mais lucrativas, segundo a McKinsey (2020).
Times liderados por mulheres tendem a ter maior engajamento, menos turnover e melhor clima organizacional.
A OCDE aponta que, se o mundo reduzisse a lacuna de gênero no trabalho, o PIB global cresceria em até 12% até 2030.
💡Chegou a hora de reprogramar o sistema
A frase “mulheres não servem para liderar” é, no mínimo, desatualizada e no máximo, uma sabotagem coletiva. Se queremos empresas mais humanas, criativas e inovadoras, precisamos de todos os talentos na mesa.
O futuro não pertence a quem comanda pelo medo. Pertence a quem inspira pelo exemplo.
🚀 Mulheres não só podem, como devem liderar. Porque liderança é sobre impacto, e não sobre gênero.
Liana Lopes - Mentora & Co Founder do movimento Agile Women, presente no maior HUB de agilidade UNIVERSO ÁGIL . Palestrante | Gerente de Projetos TI | Líder de Operações | MBA Gestão de Projetos e Metodologias Ágeis e Pós Graduanda em Neurociências | SFPC |Analista de Suporte | Fotógrafa e Mãe
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